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Nesta quinta-feira (22), o jornalista e ativista pelos direitos das pessoas com deficiência, Gustavo Torniero, participa de uma live especial no Instagram da Fast Shop, às 19h30, para falar sobre tecnologia como ponte para a acessibilidade e a inclusão de pessoas com deficiência. E para se aquecer para esse encontro incrível, o blog conversou com ele sobre conteúdo e inclusão nos tempos atuais. 

Torniero – que tem reportagens publicadas em grandes veículos de comunicação, como BBC Brasil e HuffPost Brasil – começou o curso de jornalismo em 2014, mas a sua afinidade com a área vem de longa data. “Eu já tinha uma experiência e uma preferência pela área. De 2012 até 2016, por exemplo, apresentei um programa de rádio que chegou a ser transmitido em mais de 900 cidades. Simultaneamente, comecei a me inserir cada vez mais no ativismo, participando de organizações de defesa de direitos, escrevendo textos e publicando informações e conteúdo nas redes sociais sobre o assunto. Encontrei, na profissão, uma forma de conscientizar a população sobre nossas questões e de me fazer mais presente na mídia enquanto jornalista com deficiência. Os caminhos se cruzaram e fizeram com que eu pudesse escrever reportagens para importantes veículos de comunicação, o que é uma grande alegria para mim”, conta. 

FastLife: você sente que ainda existe muitas barreiras para as pessoas com deficiência no mercado de trabalho? 

Torniero: são muitas barreiras para as pessoas com deficiência no geral – não só aquelas com deficiência visual. Os principais desafios estão relacionados com espaços sem acessibilidade e a crença de que a pessoa com deficiência não tem uma capacidade laboral equivalente às pessoas sem deficiência, o que é uma falácia e já foi provado que não procede. A diversidade e inclusão estimulam a criatividade e podem promover um bem-estar maior entre os funcionários de uma empresa, o que pode melhorar ainda mais a produtividade. 

Na minha visão, as empresas deveriam focar em programas de formação e de treinamento para essa parcela da população, promover processos seletivos acessíveis e que respeitem as habilidades e capacidades individuais das pessoas com deficiência, e introjetar, na cultura organizacional, os princípios do desenho universal – um conceito que defende a criação de espaços, produtos e serviços para o maior número de pessoas.

A internet traz cada vez mais recursos para ajudar na inclusão e na superação de barreiras, como é o caso do #PraCegoVer, mas é preciso usar de maneira correta. Quais as dicas para tornar publicações em redes sociais mais acessíveis às pessoas com deficiência visual?

Uma boa descrição de imagem responde a algumas perguntas: o que (ou quem, no caso da imagem mostrar pessoas), onde e como. Pense que a descrição de imagem depende do contexto e da informação que ela deseja transmitir. Uma foto publicada em um perfil de um museu, por exemplo, pode trazer mais detalhes artísticos do que a mesma foto em um perfil pessoal.

Nas redes sociais, contudo, eu sugiro ser conciso e objetivo – já que o fluxo de informações é muito alto e a navegabilidade é diferente do que um filme ou outra produção cujo tempo não é algo crucial. Descreva o que você vê e não o que você acha que existe na imagem. Cite cores e outros detalhes estéticos, mas cuidado para não ser prolixo.

No caso dos textos, acho importante entender que utilizamos um programa que lê tudo o que está na tela para a gente. Emojis são devidamente descritos, mas quando estão espalhados em uma frase e com muita frequência entre as palavras podem atrapalhar, assim como símbolos em substituição a alguma letra. 

A tecnologia também ganha cada vez mais recursos de inteligência artificial para melhorar a vida de pessoas com deficiência visual. Quais apps você recomenda para tornar o dia a dia mais prático?

Existem vários aplicativos capazes de melhorar a autonomia de pessoas com deficiência visual e com diferentes recursos, como digitalizar um documento impresso e transformá-lo em texto no celular, identificação de objetos, cores e cédulas de dinheiro, entre outros. Eu citaria, aqui, o CamFind, Seeing AI, Envision e Daily by Via Opta, que utilizam inteligência artificial para algumas dessas tarefas; o Be My Eyes, que conecta usuários com deficiência visual e voluntários via videochamada; e o Nav by via Opta e SoundScape, para navegação com GPS.

Existem opções de jogos, livros e outros tipos de entretenimento específicos para pessoas com deficiência visual? Quais você recomenda? 

Existe o que chamamos de audiogame (jogos em áudio). Também existem games que podem ser jogados via texto e até mesmo com uma pessoa que enxerga. Um dos maiores exemplos recentes é o jogo The Last of Us Part II, para Playstation 4, com mais de 60 configurações de acessibilidade para diferentes tipos de deficiência.

Na internet, um serviço acessível que contempla vários jogos famosos, como Uno, Poker, dominó, entre outros, é o “Playroom”, uma plataforma desenvolvida com acessibilidade para pessoas cegas e com baixa visão.

O preconceito e o capacitismo ainda são uma realidade que precisamos combater, e muitas vezes as pessoas utilizam termos incorretos ou ofensivos por falta de informação. Quais os maiores erros neste sentido?

É difícil listar todos os erros (eles são muitos). Mas o mais comum deles é chamar a pessoa com deficiência de portador, de deficiente ou de pessoa com necessidades especiais. O primeiro é simples: não deixamos nossa deficiência em casa, portanto não a portamos; deficiente não é mais utilizado porque, graças aos movimentos internacionais, hoje somos vistos primeiro como pessoas e depois como alguém com deficiência; e necessidades especiais todos nós temos, inclusive você que nos lê agora.